Você chega ao dentista depois de sofrer um forte impacto no dente, resultando em uma lesão e muitas dores na arcada dentária. Após avaliar o órgão dental em questão, ele indica que será necessária a realização de uma pulpotomia.
Apesar do nome um tanto quanto peculiar, não é preciso ter medo. A pulpotomia é um procedimento extremamente comum e realizado diariamente em qualquer consultório odontológico do Brasil.
Pulpotomia consiste no método de remoção da polpa coronária de um dente lesionado quando o trauma não chega a atingir a polpa radicular.
Quer entender mais sobre esse técnica? É só continuar por aqui!
O que é pulpotomia na odontologia?
Antes de entender o que é pulpotomia e qual o seu objetivo, primeiro é necessário compreender o que é a terapia endodôntica e sua função dentro da odontologia.
A endodontia pode ser definida como a área responsável pelo estudo da polpa, tecido periapical e raiz dentária, sendo “endo” = dentro/interno e “dontia” = dente.
Assim, esse ramo da odontologia trata a estrutura interna do dente, incluindo etiologia, diagnóstico, terapêutica e profilaxia das doenças e lesões que afetam essa região do elemento dental.
Por sua vez, a polpa do dente é um tecido que ocupa a porção central do dente e que se estende da dentina à raiz do dente, sendo composta por nervos, vasos sanguíneos, células do conjuntivo e fibras. Dessa forma, a polpa dental é responsável pela vitalidade do dente.
A polpa dentária pode ser dividida, ainda, em duas porções: a polpa coronária, localizada na câmara pulpar, e a polpa radicular, que se encontra no canal radicular.
Hoje em dia a prevenção é vista de forma prioritária na odontologia, o que inclui a endodontia. Dessa maneira, todos os procedimentos que envolvem a prática clínica são direcionados à preservação da estrutura dental saudável, inclusive do complexo dentina-polpa, sendo a extração dentária a última alternativa.
Assim, em um contexto de exposição pulpar acidental, seja decorrente de traumas ou cárie dentária, por exemplo, é preciso analisar do ponto de visto endodôntico o melhor método de tratamento a ser adotado.
Técnica endodôntica: pulpotomia
A pulpotomia é uma técnica endodôntica conservadora que pode ser utilizada para casos de infecção da polpa dentária.
Contudo, esse procedimento só pode ser realizado em casos em que a infeção ou trauma não atingiu a polpa radicular, localizada logo abaixo da coronária.
Isso porque esse método consiste na extração exclusiva da polpa coronária, de forma a preservar a radicular.
Assim, o tecido pulpar remanescente é protegido com um material capeador que preserva sua vitalidade e estimula o processo de reparo e formação de tecido mineralizado, mantendo a estrutura e função do tecido pulpar radicular normais.
Observações sobre a pulpotomia
Como em qualquer intervenção cirúrgica, para a realização de uma pulpotomia é necessário obter um breve panorama sobre estrutura que será operada.
Assim, é necessário que o dentista realize um exame clínico-visual na polpa dentária, analisando sua consistência e o sangramento.
É interessante que o sangue apresente uma coloração vermelho claro. Caso ele esteja muito escurecido, pode ser que não esteja sendo bem oxigenado.
O profissional ainda deve utilizar uma cureta para constatar a consistência do remanescente pulpar na boca do paciente.
O comum é que, nesse tipo de situação, ele apresente um aspecto pastoso, quase líquido. Ainda durante a análise, é legal investigar o estado da coroa dentária.
Ela deve estar quase intacta e com suas paredes espessas e bastante resistentes. Quando a coroa não apresenta estas características, é comum que outro procedimento seja recomendado.
Quando a pulpotomia é indicada?
Um exemplo bastante comum de indicação para pulpotomia é quando o paciente apresenta um traumatismo com lesão pulpar. Entretanto, ele pode ser indicado em variadas situações, como:
- Dente livre de pulpite radicular;
- Dentes que possuem o ápice sem cemente (rizogênese incompleta) em casos de pulpite;
- Hemorragia no local da amputação;
- Presença de pelo menos 2/3 do comprimento radicular;
- Ausência de abscesso, fístula, mobilidade, reabsorção interna;
- Radiopacidade óssea na região de furca;
- Cárie dentária extensa.
Assim como grande parte das terapias odontológicas, a pulpotomia também possui suas contraindicações, são elas:
- Casos com dor espontânea e persistente (pois o recomendado é a extração completa da polpa);
- Reabsorção radicular externa patológica e interna;
- Calcificações pulpares;
- Tumefação de origem pulpar;
- Mobilidade patológica;
- Necrose pulpar.
Protocolo clínico
Antes de qualquer coisa, é importante dizer que o procedimento pode ser realizado em todos os tipos de dentição. Assim, existe a pulpotomia em dentes decíduos e a pulpotomia em dentes permanentes.
Os procedimentos são bastante semelhantes, se diferenciando apenas em algumas pequenas individualidades.
Essa técnica pode ainda ser realizada de duas diferentes maneiras, como a técnica mediata e imediata. A primeira é realizada em duas sessões, enquanto a segunda em uma única.
Na primeira sessão da técnica mediata, os procedimentos básicos – que serão descritos em breve – são executados normalmente, porém aplica-se um selamento duplo provisório para que o dente não fique exposto ao meio bucal até que na próxima sessão seja retirado.
Já na imediata, o selador é aplicado na câmara por 40 segundos e, em seguida, já pode-se realizar a restauração.
Passo a passo
Aqui iremos explicar como o procedimento é efetuado de uma maneira geral:
- Inicialmente, o paciente é sedado através da aplicação de anestesia local. Assim que a medicação faz efeito, o dentista realiza o isolamento absoluto da região e pode iniciar a remoção do tecido cariado e/ou lesionado;
- Em seguida, ele alcança outra camada do dente, o teto da câmara pulpar, que também será removido. Assim, é possível efetuar a excisão da polpa coronária utilizando curetas afiadas ou brocas esféricas lisas. Nessa fase é importante lavar a ferida cirúrgica com água limpa abundante;
- Após a higienização, ocorre a hemostasia espontânea, seguida da secagem da ferida com um pedaço de algodão esterilizado. Com isso, o dentista pode solução de aplicar uma solução de corticosteróide-antibiótico por 10 a 15 minutos;
- Por fim, ocorre a aplicação de hidróxido de cálcio puro e cimento de ionômero de vidro odontológico, uma vez que estas duas substâncias se complementam. E seguida, o excesso de material é removido das paredes laterais e é instalada uma restauração provisória ou imediata.
Materiais obturadores utilizados na técnica
Como vimos, após a perfuração radicular e extração da polpa coronária é preciso que o endodontista utilize medicamentos para a preservação da região. No protocolo clínico acima vimos a aplicação do hidróxido de cálcio, um dos materiais mais comuns utilizados nesse técnica.
Contudo, outros materiais podem ser usados nesse procedimento. Confira a seguir quais são eles:
- Hidróxido de cálcio
- Formocresol
- Glutaraldeído
- Sulfato Férrico
- MTA
- Laser
- BMPs
- Para Guedes-Pinto
Hidróxido de cálcio
O hidróxido de cálcio é um material indicado especialmente para os casos de regeneração pulpar, pois possui propriedades antibacterianas.
Trata-se de um pó branco, cristalino, altamente alcalino e solúvel em água.
Seu efeito no tecido pulpar é a redução do processo inflamatório. Além disso, também atua como vasoconstritor capilar e indutor no processo de mineralização.
Dentre suas vantagens se destaca a inalteração da cor da câmara pulpar, o que o torna indicado para dentes anteriores. Também induz a formação dentinária.
Por outo lado, tem como desvantagem o risco de promover necrose do tecido adjacente.
Formocresol
O formocresol é um material que costuma ser mais indicado peara o tratamento de desvitalização pulpar.
É apresentado em forma líquida, aplicado sobre o remanescente pulpar com bolinha de algodão e pinça clínica.
Sua ação bactericida e antisséptica possui alta porcentagem de sucesso clínico a curto prazo.
Como vantagem possui uma facilidade de uso grande. Por outro lado, alguns estudos demonstram que esse material pode ter efeito tóxico.
Glutaraldeído
O glutaraldeído é um material capaz de fixar os tecidos superficialmente e manter a vitalidade do tecido pulpar. Além disso, quando comparado ao formocresol, apresenta menores índices de reações pulpares indesejáveis.
Sua aplicação também é realizado por meio da bolinha de algodão estéril e pinça clínica.
As desvantagens desse material são sua incapacidade de induzir a formação de barreira dentinária e o efeito de produção de trombose, isquemia e coagulação,
Sulfato Férrico
O sulfato férrico é mais indicado para tratamentos de dentes que deverão ficar na boca por um período superior a 36 meses.
Trata-se de um material com alta taxa de sobrevivência pulpar, além de ser eficiente no controle imediato da hemorragia. Seus resultados clínicos demonstrados em estudos são favoráveis.
É apresentado em forma líquida, sem epinefrina, com sulfato férrico a 15,5%.
MTA
A pulpotomia com MTA, material mais conhecido por Agregado Trióxio Mineral, é um ótimo selador endodôntico.
Quando comparado com o hidróxido de cálcio, estudos indicam uma melhor formação de ponte de dentina tubular. Isto quer dizer que esse material tem potencial de induzir os odontoblastos aformar barreira dentinária.
Trata-se de um material em pó que deve ser misturado com água destilada para realizar a aplicação.
Uma das vantagens do MTA é que pode ser usado em locais úmidos. Por outro lado, possui manipulação difícil e um tempo de presa muito longo.
Laser
O laser de dióxido de carbono costuma ser usado em pulpotomias de dentes decíduos.
O laser de baixa intensidade, em especial, possui maiores índices de sucesso clínico e radiográfico nos quesitos de absorção interna e calcificação pulpar se comparado ao hidróxido de cálcio. Contudo, não está associado a formação de barreira dentinária.
Uma das principais vantagens do laser é de não causar nenhum tipo de efeito tóxico, além de ter efeito esterilizante. Porém, trata-se de um material de alto custo.
BMPs
As BMPs, ou Proteínas Morfogenéticas do Osso, são proteínas que estão presentes na matriz óssea e são capazes de induzir a diferenciação celular.
Estudos indicam que essas proteínas demostram capacidade indutora e formadora de osteodentina ou dentina como proteção biológica no tecido pulpar.
Pasta Guedes-Pinto
A pasta Guedes-Pinto é um material mais utilizado em universidades brasileiras.
É um material caracterizado por ser antisséptico, antimicrobiano e anti-inflamatório, com associação corticosteróide-antibiótica.
Se comparada com o formocresol e o glutaraldeído, possui menor citotoxicidade.
Qual a diferença entre pulpotomia e pulpectomia?
Quando ouvimos falar sobre a pulpotomia, logo lembramos de uma terapia endodôntica de nome muito similar, a pulpectomias.
Mas, afinal, pulpotomia e pulpectomia são a mesma coisa? Só muda a maneira de falar? Existe diferença entre pulpotomia e pulpectomia?
De fato, algumas pessoas fazem uma tremenda confusão ao falar sobre a pulpotomia e a pulpectomia. Realmente os nomes, e até os procedimentos, são semelhantes, mas não iguais.
Como já explicamos anteriormente, a pulpotomia é uma técnica realizada quando a lesão atinge apenas uma pequena parte da polpa coronária. Mas e quando a cárie ou o trauma também atingem a polpa radicular e é preciso extrai-la?
Ta aí! Essa é a pulpectomia. Trata-se de uma técnica utilizada em situações onde a polpa dentária é integralmente danificada.
Logo, a pulpotomia promove a remoção parcial do tecido pulpar, enquanto a pulpectomia consiste na remoção total da polpa dentária do paciente.
Quais são as vantagens dessa técnica endodôntica?
A pulpotomia pode possuir diversas vantagens, especialmente quando comparada à pulpectomia.
Isso porque os tratamentos de canais radiculares – pulpectomia – somente atingem bons níveis de sucesso quando são realizados por profissionais especializados. Além disso, seu alto custo torna o tratamento inviável para pessoas de baixa renda.
Por outro lado, o procedimento de pulpotomia pode ser uma melhor conduta a ser adotada, uma vez que é um procedimento de baixo domínio, isto é, consideravelmente mais fácil de ser executado pelo dentista, além de ter um custo mais reduzido.
Isso evita a prática da exodontia – extração do dente – desnecessária em uma população em que o acesso ao tratamento endodôntico é irrealizável economicamente.
Outras vantagens que a pulpectomia apresenta é a preservação da vitalidade radicular do dente, uma vez que apenas parte da polpa dental é extraída.
Esse procedimento também pode ser realizado tanto em dentes decíduos como em dentes permanentes.
Outras técnicas de proteção do complexo dentino-pulpar
Como acabamos de ver, a pulpotomia é uma técnica endodôntica que tem como objetivo a proteção do complexo dentino-pulpar contra lesões e ação bacteriana.
Esse tipo de técnica tem como principal objetivo prevenir e exposição pulpar. Mas você sabia que a pulpotomia não é a única? Conheça a seguir outras técnicas de proteção do complexo dentino-pulpar:
- Capeamento pulpar direto
- Capeamento pulpar indireto
- Curetagem
Capeamento pulpar direto
O capeamento pulpar direto é definido com um curativo de uma polpa exposta que está clinicamente normal e não possui sinais e sintomas da doença pulpar grave.
A cura da polpa é estimulada pelo material capeador que produz tecido mineralizado e fecha a área de exposição, evitando a micro-infiltração e penetração de bactérias.
Trata-se de um tratamento simples, barato e que possui mais sucesso em dentes mais jovens.
Capeamento pulpar indireto
Já o capeamento pulpar indireto é uma terapia pulpar caracterizada pela remoção apenas do tecido infectado e necrosado, mantendo a dentina que, mesmo desmineralizada, ainda possui vitalidade.
Antes de realizar o procedimento é necessário que uma análise cuidadosa do estado da polpa seja feita. Essa técnica é usada em dentes nos quais a inflamação pulpar foi considerada mínima e que a remoção completa do tecido desmineralizado pela cárie acarretaria em uma exposição pulpar.
O capeamento pulpar indireto se baseia no seguinte fato:
Quando a dentina é atingida pela cárie os ácidos dessas bactérias a amolecem antes mesmo que haja a invasão bacteriana. Dessa forma, existem duas camadas de dentina amolecidas na cárie, onde a mais externa é infectada e a mais profunda está desmineralizada, mas livre da infecção.
A técnica propõe, então, a extração da camada infectada, preservando a mais profunda, contanto com o fato de que a dentina desmineralizada não infectada pode remineralizar de forma natural.
Curetagem
A curetagem pulpar consiste no corte e na remoção mais superficial da polpa exposta. Então, a superfície remanescente é coberta por um material que promove à polpa condições para criar uma camada de dentina.
Assim, o restante da polpa é preservado, permitindo sua sobrevivência e funcionalidade. Essa técnica é indicada em casos de pequena exposição por cárie traumas acidentais ou durante o preparo cavitário, ou, ainda, quando ocorre remoção deliberada da camada remanescente de dentina nas cáries muito profundas.
Todas essas técnicas de proteção do complexo dentino-pulpar levam em consideração o princípio de prevenção e preservação do elemento dental na odontologia.
Vale lembrar que o método de tratamento adotado para tratar a cárie ou lesões dentais, seja ele a pulpotomia, capeamento pulpar ou curetagem, deve ser decidido pelo seu dentista. Para receber o tratamento mais indicado para o seu tipo de caso, procure um endodontista capacitado e agende uma consulta.