Simpatio
DENTISTAS

Sarampo e odontologia: os sintomas começam pela boca

Sarampo e odontologia: os sintomas começam pela boca

O dentista é o primeiro profissional que pode desconfiar da presença do sarampo no paciente

Em 2016, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) entregou ao Brasil o certificado de erradicação do sarampo. No entanto, 3 anos depois, o país perdeu o status alcançado. O motivo? O aumento na confirmação de casos endêmicos, ou seja, provenientes do próprio território nacional.

Até então, a maioria das ocorrências de sarampo estavam relacionadas com a importação do vírus – sendo controladas sem maiores dificuldades. E você sabia que o problema também está relacionado com a odontologia? Sim, são as chamadas Manchas de Koplik, que explicaremos adiante.

O sarampo é uma infecção viral altamente contagiosa. Ela é causada por um Morbilivírus, que fica incubado de 7 a 18 dias até que os sintomas apareçam. A doença é transmitida através da secreção da pessoa contaminada para outra que não está imunizada contra o vírus.

Mas agora vamos entender como o vírus do sarampo atua?

Quais São os Sintomas do Sarampo?

Como dissemos, os sintomas do sarampo aparecem após o período de incubação do vírus. Os mais comuns são:

É importante ressaltar que os exantemas surgem cerca de 2 a 4 dias depois dos primeiros sintomas como febre, coriza, dor de cabeça, tosse, etc. Assim, eles persistem por até uma semana.

Normalmente, a febre desaparece no terceiro dia após o aparecimento das manchas vermelhas. Se ela continuar, pode ser um indicativo de que o corpo não está reagindo como deveria.

A infecção viral tem como característica comprometer o sistema imunológico do paciente. E com a imunidade baixa, pode ser porta de entrada para outras doenças, o que geraria complicações graves.

Com a resistência afetada, outras infecções agem mais agressivamente. Desse modo, há situações em que deixam sequelas, como cegueira, surdez, mobilidade reduzida e déficit cognitivo.

O paciente com o vírus está apto para transmiti-lo a partir de 4 dias antes do aparecimento das erupções cutâneas. As maneiras mais comuns são por tosse, espirros, fala e respiração, por isso é facilmente propagada.

Basta a pessoa não imunizada entrar em contato com as gotículas das partículas virais.

Tem Tratamento?

Infelizmente, por se tratar de uma doença autolimitada, não existe tratamento do sarampo. Dessa forma, o que deve ser feito é aliviar os sintomas.

O paciente, portanto, deve:

Há Maneiras de Evitar a Doença? Vacinando-se!

A vacina do sarampo é a melhor forma de evitar a doença. A tríplice viral, que também previne a caxumba e a rubéola, é oferecida pelo sistema público de saúde e aplicada em duas doses.

A primeira é feita a partir do primeiro ano de vida da criança. A segunda, 30 dias depois da primeira dose.

Entretanto, o adulto que não estiver com a carteira de vacinação em dia contra o vírus também deve se prevenir. Pessoas com até 29 anos precisam tomar a tríplice viral no mesmo esquema, em duas doses, com um intervalo de 30 dias entre elas.

Para quem está na faixa etária dos 30 aos 49, a vacina é administrada em dose única.

Ela é contraindicada em algumas situações:

A vacinação é o principal modo de precaver surtos de sarampo, que estão acontecendo em 2019.

Para se ter uma ideia, o Ministério da Saúde tem como meta atingir 95% da cobertura das vacinas. Em 2018, sarampo alcançou 90% na primeira dose e 75% na segunda.

Alguns fatores levam as pessoas a deixarem de se proteger.

Os movimentos antivacinas, a sensação de proteção por uma doença estar erradicada e o pensamento de acreditar que por ser adulto não há mais a necessidade de tomar a vacina são apenas alguns exemplos.

Deixar de se vacinar pode prejudicar toda uma população.

Os surtos facilmente poderiam se transformar em epidemia a nível estadual ou até mesmo nacional. Principalmente, quando falamos de uma doença de fácil transmissão.

Sarampo e Odontologia: Qual a Relação?

O Prof. Dr. Celso Lemos, que trabalha atualmente na Universidade de São Paulo (USP) e que já presidiu a Sociedade Brasileira de Estomatologia e Patologia Oral (Sobep), nos conta que o primeiro profissional que pode desconfiar da presença do Measles morbillivirus é o dentista.

“O sarampo se manifesta por meio de pontos esbranquiçados na bochecha, bem na mucosa jugal, recebendo o nome de Manchas de Koplik. Essas manchas, que parecem pequenas úlceras, surgem dois ou três dias antes das manchas na pele.”

Na literatura, os sinais de Koplik são descritos como “grãos de areia”. Vale salientar que são assintomáticas. Nada se assemelham a aftas, por exemplo, uma vez que elas podem causar bastante desconforto na boca.

No entanto, é extremamente incomum que o dentista veja esses pontos esbranquiçados na cavidade bucal do paciente. É necessário muita coincidência.

A pessoa terá que ir ao consultório odontológico justamente naquele exato momento.

“Mas se o dentista percebê-las, o paciente terá de ir para casa imediatamente, para evitar que o vírus seja exposto para mais pessoas”, destaca Lemos.

Papel do Dentista

Ele ainda fala como deve ser o papel do dentista diante de uma situação dessas.

“Durante a anamnese, o profissional precisa investigar se o paciente está com a carteira de vacinação em dia. O sarampo é uma das doenças mais contagiosas, cerca de 90% das pessoas que entram em contato com o vírus o contraem”, explica.

“O ambiente que recebeu um portador do vírus pode ficar infectado por, pelo menos, 2 horas. Agora, imagine no serviço público, que recebe pacientes diferentes todos os dias. Por isso, é importante que o dentista e os outros profissionais da saúde invistam na ideia da vacinação, alertando sobre os riscos de não tomar a vacina”, finaliza.

Além disso, é imprescindível usar regularmente os equipamentos de proteção individual (EPI), que visam proteger ao máximo o profissional. São eles: luvas, máscaras, óculos, gorros, avental e protetor para os pés.

Mas, mesmo assim, tratando-se de um vírus como o do sarampo, ainda há o risco de contaminação. Portanto, os profissionais da saúde também têm a obrigação de estar com as vacinas em dia, tomando as mesmas duas doses da tríplice viral com intervalo de 30 dias.

* Entrevista e texto por Matheus Miura

Sair da versão mobile