A prevenção é a melhor forma de remediar. Por isso, a biossegurança é tão importante em consultórios e clínicas odontológicas
Ao falar em prestar um bom atendimento aos pacientes no consultório, diversos pontos são levados em consideração. Dentre eles, encontramos a biossegurança.
Afinal, por meio da biossegurança é possível evitar muitos problemas, mantendo a segurança de todas as pessoas que participam do tratamento odontológico, desde o paciente até a equipe.
Biossegurança é o nome dado a uma série de condutas que todos do consultório devem seguir. De modo geral, essas condutas incluem o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) e a esterilização dos instrumentos odontológicos e do ambiente.
Portanto, se você quer entender mais sobre esse assunto importantíssimo, te convidamos a ler este artigo.
Nele, nós entrevistamos a Profa. Dra. Dagmar Queluz, que faz parte da Comissão de Biossegurança da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, da Unicamp.
O que é biossegurança e qual seu objetivo?
O primeiro ponto que precisamos explicar é justamente o que é biossegurança e qual seu objetivo.
Como dissemos, a biossegurança envolve ações que têm como intenção garantir a segurança de todos inseridos no ambiente do consultório odontológico.
Isso abrange da sala de atendimento ao banheiro, já que é necessário seguir as normas de limpeza da Anvisa.
Então, é possível entender que os princípios da biossegurança são justamente os de:
- Garantir a segurança de quem trabalha no local através de rotinas de trabalho com o menor risco possível, esclarecendo os princípios básicos da biossegurança;
- Fazer o uso correto dos equipamentos de proteção individual;
- Implementar medidas que evitam acidentes.
É imprescindível que o dentista, em especial, siga à risca todas essas regras, pois diariamente fica exposto a materiais biológicos, como sangue e saliva.
Quais são as normas de biossegurança?
Mas quais são as normas de biossegurança que estamos tanto falando?
“São inúmeras. Anvisa, normas regulamentadoras, Ministério da Saúde, leis federais, estaduais e municipais”, diz Queluz.
De acordo com a doutora, as principais são as normas reguladoras de números:
- 5: comissão interna de prevenção de acidentes;
- 6: equipamento de proteção individual;
- 7: programa de controle médico de saúde ocupacional;
- 9: programa de prevenção de riscos ambientais;
- 17: ergonomia;
- 24: condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho;
- 32: segurança e saúde no trabalho de serviços de saúde.
No entanto, Dagmar ainda aponta que “normas de infraestrutura física, como instalações elétricas, hidrossanitárias e de iluminação, sistemas de climatização, abastecimento de água, proteção radiológica e gases medicinais” não podem ser esquecidos.
Como o dentista pode agir dentro das normas de biossegurança?
A aplicação da biossegurança no consultório odontológico ou na clínica é um ponto que precisa de bastante atenção. Isso já falamos.
Mas para alcançar o objetivo, Queluz diz que “o dentista deve ter conhecimento das normas de biossegurança para realizá-las ou verificá-las no dia a dia”.
Segundo a doutora, o dentista deve saber controlar e prevenir riscos, fazendo com que infecções e doenças transmissíveis não se tornem cruzadas.
Por que a biossegurança é importante na odontologia?
Para Queluz, a importância da biossegurança na odontologia está relacionada com a possibilidade de reduzir as chances de desenvolvimento de problemas no consultório odontológico.
“A biossegurança compreende um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, mitigar ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam comprometer a qualidade de vida, a saúde humana e o meio ambiente”, explica a profissional da Unicamp.
Quais problemas são prevenidos pelos equipamentos odontológicos?
Para explicar quais são os problemas que as normas de biossegurança são capazes de evitar, falaremos primeiro sobre quais são os meios de contaminação no consultório, chamados de riscos ocupacionais.
Temos os riscos:
- Físico;
- Químico;
- Ergonômico;
- Mecânico ou de acidente;
- Biológico;
- Pela falta de conforto ou higiene.
De maneira separada, explicamos como são esses problemas:
Risco físico
Aqui, encontramos as seguintes complicações:
- Ruído excessivo;
- Vibração;
- Radiações ionizantes e não ionizantes;
- Temperaturas extremas;
- Iluminação baixa ou excessiva;
- Umidade do ar.
As causas desses riscos tem a ver com os equipamentos odontológicos listados:
- Caneta de alta rotação;
- Compressor de ar;
- Equipamento de raio X;
- Autopolimerizador ou fotopolimerizador;
- Autoclave.
De toda maneira, é válido ressaltar que, nesse caso, o principal afetado é o dentista. Por isso, é preciso ter cuidado!
Risco químico
Refere-se a todos os agentes químicos presentes no ambiente:
- Poeiras;
- Névoas;
- Vapores;
- Gases;
- Mercúrio;
- Produtos químicos no geral.
Portanto, o dentista o dentista deve ter cautela ao manipular:
- Amalgamadores;
- Desinfetantes químicos, como álcool glutaraldeído, hipoclorito de sódio e clorexidina;
- Gases medicinais, como óxido nitroso.
Risco ergonômico
Encontramos problemas que dizem respeito às características psicofisiológicas do empregado. Em outras palavras são:
- Postura incorreta;
- Ausência do acompanhamento feito por um auxiliar ou técnico;
- Baixa capacitação da equipe auxiliar;
- Falta de planejamento;
- Ritmo de trabalho excessivo;
- Realização de ações repetitivamente.
Risco mecânico
Normalmente, os riscos aqui citados são mais associados a acidentes de trabalho. Mas, para evitar que isso ocorra, é necessário:
- Possuir espaço físico de tamanho adequado;
- Ter arranjo físico adequado no local de trabalho;
- Não fazer uso de instrumentos com avarias ou impróprios para o procedimento;
- Evitar edificações com problemas;
- Utilizar os EPIs corretamente.
Risco biológico
Nos riscos biológicos encontramos problemas como a infecção cruzada, isto é, que acontecem devido a exposição a materiais biológicos contaminados.
São três maneiras de contrair essas infecções: por vias aéreas, por contato com o sangue e por contato direto. Listamos alguns exemplos:
- Vias aéreas: gripe, rubéola, sarampo, coronavírus;
- Sangue: hepatites e Aids;
- Contato direto: herpes simples, sarna, piolho, micose, conjuntivite.
Independente de qual for a forma de contágio, não é somente o profissional de saúde que corre risco. O paciente e a equipe odontológica também precisam se prevenir.
Riscos pela falta de conforto ou higiene
Por fim, a falta de conforto ou de higiene compreende as seguintes situações:
- Sanitários insuficientes e sem separação por sexo;
- Ausência de produtos de higiene pessoal, como sabonete líquido e toalha descartável;
- Falta de água potável para consumo;
- Não fornecer uniformes para os funcionários;
- Local impróprio para os empregados terem suas refeições.
Além dos EPIs, o dentista precisa seguir outro protocolo?
O uso dos chamados EPIs (equipamentos de proteção individual) é altamente necessário em todos os atendimentos odontológicos.
Porém, existem outros pontos que o dentista precisa se adequar, conforme o manual de biossegurança.
Dagmar Queluz explica: “Além dos EPIs, o dentista deve lavar corretamente as mãos, manipular cuidadosamente o material cortante, ter cuidados com agulhas, com caixas de descarte, com transportes de resíduos, descontaminar as superfícies com desinfetantes, se houver presença de sangue ou secreções, e esterilizar os instrumentos antes de usá-los novamente”.
E não acaba por aí. A doutora também diz que o profissional deve ter cuidado para não tocar o rosto, a máscara, o cabelo e objetos durante o atendimento.
É de grande necessidade que o profissional atente-se a todos os pontos da biossegurança. Afinal, não envolve apenas sua saúde, mas a de todos.